Natal
Penso no Natal. No teu Natal. Para a bondade
A minh’alma se volta. Uma grande saudade
Cresce em todo o meu ser magoado pela ausência.
Tudo é saudade… A voz dos sinos… A cadência
Do rio… E esta saudade é boa como um sonho!
E esta saudade é um sonho… Evoco-te… Componho
O ambiente cuja luz os teus olhos douram.
Figuro os olhos teus, tristes como eles foram
No momento final de nossa despedida…
O teu busto pendeu como um lírio sem vida,
E tu sonhas, na paz divina do Natal…
Ó minha amiga, aceita a carícia filial
De minh’alma a teus pés humilhados de rastos.
Seca o pranto feliz sobre os meus olhos castos…
Ampara a minha fronte, e que minha ternura
Se torne insexual, mais do que humana — pura
Como aquela fervente e benfazeja luz
Que Madalena viu nos olhos de Jesus…
in “A cinza das horas” Clavadel, 1913