2.12.08


Natal a fingir branco




Ah! os natais de infância
que não tenho em memoria,
mas em nostalgia
- através das memórias dos
outros, das suas melodias: os
natais da minha infância.

Natais de infância – mas que neve?
Também eu sonho (e quem o não?)
um Natal branco.
Queria neve no meu
natal de nostalgia. Queria
fechar os olhos
e ver por dentro neve. Queria-
-me em país nórdico, ao menos
na nostalgia possível.
Mas o salto nos símbolos
de que é feita a vida:
uma falha de salto por degrau
ausente.

Ah! Um natal inocente de ternura
E figos, amigos e a mesa em
Nostalgia, como as cores
Do presépio.

Ah! Um natal inocente de ternura
e figos, amigos e a mesa em
nostalgia, como as cores
do presépio.
Um natal inocente e
de perdão


[transler: a maldição deve ser
assim: sempre presente
a outra culpa: direito a nostalgia
De Natal: (a morte, a fome,
o frio): um privilégio]


Também não ter Natal
nem em memória. Só uma nostalgia
de doer.
Até a nostalgia
finalmente
começando a ceder:
nem país nórdico,
nem neve por dentro,
nem alegria a sério
na memória.

Como em receita,
adicionada a culpa dos direitos,
associada a lucidez da
trans-leitura.

Hoje, na noite de Natal


ah! Os natais da infância
que nem em nostalgia
me cegam de ternura

Ana Luísa Amaral