9.12.08

não chove

Ilha Surrounds-Lumbo I


Não chove há muitos dias.
Meus límpidos caminhos de água recuaram
por entre as ramagens verdes da baixa-mar.
Mas os poços ainda estão cheios
de preguiça e espelhos de água velha.
É esta magia subterrânea que nos alimenta.

Nas ancas coleantes das virgens
não se alegra a lua pardacenta.
Salpicada de sarro e salitre,
a igreja
ganhou musgo suave a desenhá-la.
Está tão pequena
como o sacristão que eu teatrava
a subir os degraus rangentes da torre sineira
altiva e triunfante
por sobre o zinco e a telha
desafiando com o seu vermelho
o verde carregado de uma específica amendoeira.
A pedra talhada da vida arrepiou-se,
desmontando-se sorrateira e acactona-se
para lá do cemitério.
Arrependida.
As encostas douradas do areal
esboroam-se no toque da maré.
Outra nova maré de entusiasmo já caiu.
Como mancha loura num tapete negro.


Júlio Carrilho
Moçambique