A pastorinha morreu, todos estão a chorar. Ninguém a conhecia e todos estão a chorar.
A pastorinha morreu, morreu de seus amores. Á beira do rio nasceu uma árvore e os braços da árvore abriram-se em cruz.
As suas mãos compridas já não acenam de além. Morreu a pastorinha e levou as mãos compridas.
Os seus olhos a rirem já não troçam de ninguém.
Morreu a pastorinha e os seus olhos a rirem.
Morreu a pastorinha, está sem guia o rebanho.
E o rebanho sem guia é o enterro da pastorinha.
Onde estão os seus amores? Há prendas para Lhe dar.
Ninguém sabe se é Ele e há prendas para Lhe dar.
Na outra margem do rio deu á praia uma santa que vinha das bandas do mar.
Vestida de pastora p'ra se não fazer notar. De dia era uma santa, à noite era o luar.
A pastorinha em vida era uma linda pastorinha;
a pastorinha mórta é a Senhora dos Milagres.
Almada Negreiros,
in 'Frisos - Revista Orpheu nº1
in 'Frisos - Revista Orpheu nº1