tenho as margaridas do teu vestido de verão; azuis e amarelas
o pêlo de raposa pelos ombros e o chapéu de lã não me enganam
a chuva oblíqua a fugir do outro texto; do texto do outro
"não entres nesse quarto"; a porta sempre fechada.
éramos secos de carnes e tínhamos cortado as mãos.
de rimbaud já só aquela faixa de sombra sobre o lado direito do rosto
a ampola de cloreto etílico pousada no chão de losangos pretos e brancos
o éter aspirado num lenço que se volatilizou como uma ave maligna
"é para a picada de peixe-aranha".
a banheira de esmalte estalada no rebordo
a água fria; os teus gatos que acordavam
o teu vestido de margaridas pousado num banco da casa de banho
e o efeito da ampola como um relampejo letal
a polaroid desse dia já começou a desvanecer-se
e não afoguei ainda a imagem do silêncio
virá comigo com os gestos por fazer
para o fundo do poço de mercúrio
Alexandre Sarrazola