N'um batuque hontem andei,
onde vi certa morena,
tão gentil era a pequena
que nem eu dizel-o sei
- Como está? lhe perguntei
logo que de perto a vi,
- Quer dansar? lhe repeti,
não se acanhe minha bella, -
- tunda bobo, me disse ella,
Ou antes: - Saia d'aqui
- Seja meu par, oh menina
não se zangue por tão pouco;
- Uá salúcia, é você um louco,
Gámessenâ'me qu'quina
- D'esse olhar a luz divina
fascinado me deixou!
se um beijinho, só, lhe dou
gozarei prazer infindo,
- Quicolá, me disse, rindo,
logo de mim, se affastou.
- Por que foge? venha cá,
porque só me deixa aqui?
- Uá móno... mundele inhi...
Guamiâne... ndé cuná
- Por favor, não se vá já,
é ainda, muito cedo,
- Quiússuca, disse a medo
a moreninha tão linda
Caté mungo, disse ainda,
e retirou-se em segredo...
Eduardo Neves
(poeta angolano)
(poeta angolano)