Dos mais fermosos olhos, mais fermoso
Rosto, que entre nós há, do mais divino
Lume, mais branca neve, ouro mais fino,
Mais doce fala, riso mais gracioso:
Dum Angélico ar, de um amoroso
Meneio, de um esprito peregrino
Se acendeu em mim o fogo, de que indino
Me sinto, e tanto mais assi ditoso.
Não cabe em mim tal bem-aventurança.
É pouco üa aima só, pouco üa vida,
Quem tivesse que dar mais a tal fogo!
Contente a alma dos olhos água lança
Pelo em si mais deter, mas é vencida
Do doce ardor, que não obedece a rogo.
António Ferreira
(sec. XVI)
(sec. XVI)