
Os grandes amores só são grandes porque são cegos
Nenhum ser amaria se realmente visse
Os corpos e as almas deturpadas dentro de anjos
As mulheres que me diziam sobejamente belas
Vi-as naturalmente em leitos imundos
E as mais feias tinham requintes de deusas
Não falo daquelas que colhi nas têmporas das nuvens
Nem em verdes silvados de amoras
Senão com quem troquei beijos de saliva e carne
Escritos com a tinta húmida dos cabelos
Os quais descongelaram estátuas de mármore
E nos prenderam com as mãos voando em aves
Numa ilha inacessível de condenados!
Manuel Feliciano