As mulheres de negro
Estão a olhar a forca...
Eu sou as mulheres
Dentro dos poemas
De Garcia Lorca.
Sou um tempo ambíguo
De misérias frouxas,
De fuligem,teias
E de feridas roxas.
Sou um tempo amargo
De terríveis vidas.
Cabem-me os terrores
E as asas partidas.
Sou um tempo escravo
De combinações.
Retratos de monstros,
Armam as visões.
Sou um tempo
Que não 'stá no Tempo.
Língua de água e fumo,
Solidão no vento.
Sou um tempo eterno
Que se volve Inferno
- Para além,eterno,
- Para aquém,eterno.
E dentro do tempo
Que ladeia a Vida,
Sou um tempo enfermo
De alma destruída...
Ai que lindos versos
Que aos poetas vêm!
Vão calçar-se de oiro,
Vão vestir-se bem.
Vão brincar cabeças
De outros animais.
E serão algozes
E serão ferozes
Como canibais...
Natércia Freire