Ouço a minha voz
como se estivesse ao telefone,
ouço a tua
murmurando-me ao ouvido
mesmo depois de já não nos
conhecermos,
ouço as canções
de que já não gosto,
as canções de que gosto ainda,
gravadas por amigos tão diferentes,
pirateadas numa madrugada
quando em época de exames
ouvia rádio,
canções interrompidas
por locutores, publicidade,
registos sobrepostos,
ruídos sem interesse,
a tua voz dizendo que nunca
te vais embora,
a minha,
emocionante aos quinze anos,
emocionada aos vinte,
espolio de plástico
que me documenta e reclama.
Pedro Mexia