Não venhas mais ao cais, menina negra
Não venhas mais ao cais, menina negra.
Que esperas tu ainda?
Já sabes a tua sina:
o branco que partiu não volta mais!
E tu, olhando o cais,
menina negra linda,
vês o teu lindo sonho que já finda...
Cantaram o feitiço do teu corpo,
nessa noite sensual em que tiveste
por lençol nupcial uma folha de palma;
cantaram o feitiço do teu corpo,
mas não sabias nem soubeste
que o branco tem feitiço na alma.
Habituada ao balouço da canoa
nas margens do rio Dande,
e depois embalada pelo amor,
sonhaste viajar num enorme vapor
que navega no mar grande e vai para Lisboa!
Ouve, menina negra: mato não é cidade,
oceano não é rio, dongo não é navio
e o sonho que sonhaste não é sonho, é saudade...
Não venhas mais ao cais,
que o branco não volta mais!
Geraldo Bessa Vitor (poeta angolano)