A Casa. Há-de o meu ser
Afeiçoar-se à Casa.
Como a pedra ao escultor,
A palavra ao poeta.
Nos silêncios,no escuro,
Nos sonos e nos sonhos,
Sugada pela casa,
Estarei presente em tudo.
Os recados de luz,
Os contos de Chopin,
Recolhem-me no espaço,
Adejam-me sem data.
Um murmúrio de amor
Saltita na penumbra
Das vozes juvenis.
Junto do toucador
Há uma tarde feliz.
Espreito as sombras na hora
Em que a Casa é deserta
Alguém deixou no Tempo
A grande porta aberta...
O mármore,a madeira,
As flores,a terra,a água,
O pássaro cantor e as lanternas
Da escada,
Houve um dia em que sim,
Nasceram e ficaram
Como quem abre a luz
Numa sala arrumada.
A Casa vê o Tejo.
Debruça-se à varanda,
Quer-me levar consigo...
Não sou fácil nem mansa.
Natércia Freire