"A poesia é o eco da melodia do universo no coração dos humanos." Rabindranath Tagore
10.4.10
Comem de noite
Comem de noite pelos caixotes.
Comem de noite.
Grandes famílias,sob capotes
Que são açoites.
Sob capotes de chuva e pranto,
Pátrias perdidas.
Chave na porta,a cama à espera,
A fuga à terra das suas vidas.
Cumpriram sonhos e não mataram.
Cruzaram sangues e não traíram.
Filhos de humildes embarcações
Árvores soltas de Áfricas vivas.
Quem corta fitas de liberdade
A sua gruda em fundos poços.
Sumam-se contas de ambiguidade:
Milhares de mortes,milhões de ossos.
Antes que o tempo cobre a verdade
Crescem as teias entre as aranhas.
E muitos comem pelos caixotes
Enquanto engordam estranhas espanhas.
Natércia Freire