10.4.10

Comem de noite


Comem de noite pelos caixotes.
Comem de noite.
Grandes famílias,sob capotes
Que são açoites.

Sob capotes de chuva e pranto,
Pátrias perdidas.
Chave na porta,a cama à espera,
A fuga à terra das suas vidas.

Cumpriram sonhos e não mataram.
Cruzaram sangues e não traíram.
Filhos de humildes embarcações
Árvores soltas de Áfricas vivas.

Quem corta fitas de liberdade
A sua gruda em fundos poços.
Sumam-se contas de ambiguidade:
Milhares de mortes,milhões de ossos.

Antes que o tempo cobre a verdade
Crescem as teias entre as aranhas.

E muitos comem pelos caixotes
Enquanto engordam estranhas espanhas.


Natércia Freire