
5.
É preciso cantar, é preciso sorrir,
encher a escuridão com árvores sem nome.
Estamos sós no mistério dos nossos quinze anos.
A tormenta passou. A comida arrefece.
A viagem sem história concede-nos a calma:
serenos existimos, ocultos, dominados.
Só o navio de fogo navega sobre as águas
(ponto negro no mapa que não teremos nunca).
No silêncio da espera, murmuramos palavras,
desfraldamos bandeiras, corrompemos o sonho.
Desejamos o amor, completo e derradeiro
como o cheiro do mosto nos lagares de Setembro
— mas olhamos o sexo e não compreendemos
a noite preenchendo um corpo de mulher.
E pura que ela fosse! Desfar-se-ia em bruma...
De mãos vazias vamos para o sono comum.
Um cavalo na estepe, o nosso vago anseio
marcando-nos temores na impúbera face.
Recolhemos o gesto, a flor primaveril,
o canal dos sentidos debruado de escombros
— e rígidos a planície inútil
com nervuras de sal no rosto imaginado.
É preciso cantar, é preciso sorrir,
encher a escuridão com árvores sem nome.
Estamos sós no mistério dos nossos quinze anos.
A tormenta passou. A comida arrefece.
A viagem sem história concede-nos a calma:
serenos existimos, ocultos, dominados.
Só o navio de fogo navega sobre as águas
(ponto negro no mapa que não teremos nunca).
No silêncio da espera, murmuramos palavras,
desfraldamos bandeiras, corrompemos o sonho.
Desejamos o amor, completo e derradeiro
como o cheiro do mosto nos lagares de Setembro
— mas olhamos o sexo e não compreendemos
a noite preenchendo um corpo de mulher.
E pura que ela fosse! Desfar-se-ia em bruma...
De mãos vazias vamos para o sono comum.
Um cavalo na estepe, o nosso vago anseio
marcando-nos temores na impúbera face.
Recolhemos o gesto, a flor primaveril,
o canal dos sentidos debruado de escombros
— e rígidos a planície inútil
com nervuras de sal no rosto imaginado.
Daniel Filipe (Cabo Verde)