Ah, que bela manhã de Primavera!
Abram ao Sol as portas, as janelas!
Cheira a café com leite, a sabonete,
a goivos, a sol novo, a vida nova!
A Rua canta... sinos e pregões,
apitos e buzinas, vozes claras.
-«Gostas de mim?» -«Gosto de ti.» -E o céu
cobre a Cidade com o seu manto azul.
Ah, que bela manhã de Primavera!
Pousam no Tejo barcos e gaivotas,
com velas novas, belas asas novas.
Os eléctricos voam, transbordantes,
a tilintar, a rir nas campainhas,
e os automóveis, como borboletas,
circulam, tontos, nas ruas sonoras.
Ah, que bela manhã de Primavera!
No Tejo, os vaporzinhos de Cacilhas
brincam aos barcos grandes, às viagens,
e o pequeno comboio vai e vem,
como um brinquedo de menino rico.
Confundem-se nas árvores, ao sol,
folhas e asas, pássaros e flores.
É festa em cada rua. Em cada casa,
um canário a cantar, uma cortina,
um craveiro florido na janela.
Despejaram-se armários e gavetas,
frasquinhos de perfume. ..Toda a gente
foi para a rua de vestido novo,
de fato novo, de gravata nova,
e tudo canta, a Rua é uma canção.
Ah, que bela manhã de Primavera!
-«Gostas de mim?» -é o tema da canção.
-«Gostas de mim?» -pergunta-lhe ele a ela.
-«Gostas de mim?» -pergunta à flor o vento
e a flor ao rouxinol... -«Gostas de mim?»,
«Gostas de mim?», «Gostas de mim?»
Cheira a goivos, a sol, a vida nova. ..
Ah, que bela manhã de Primavera!
Fernanda de Castro