26.2.08


Quantas vezes, Amor, me tens ferido?

Quantas vezes, Razão, me tens curado?
Quão fácil de um estado a outro estado

O mortal sem querer é conduzido!


Tal, que em grau venerando, alto e luzido,

Como que até regia a mão do fado,
Onde o Sol, bem de todos, lhe é vedado,

Depois com ferros vis se vê cingido:


Para que o nosso orgulho as asas corte,

Que variedade inclui esta medida,
Este intervalo da existência à morte!


Travam-se gosto, e dor; sossego e lida;

É lei da natureza, é lei da sorte,

Que seja o mal e o bem matiz da vida.

Bocage