
Este medo do nada que nos ocntem
Esta névoa de nata em vez de neve
E a nossa vida cada vez mais ontem
Este Sol que não rompe sob os cactos
Estes mortos de novo hoje tão perto
É no búzio dos crânios exumados
que melhor nós ouvimos o deserto
Estas folhas de plátano Estas mãos
que o fogo vai torcendo lentamente
Esta cinza no fim de uma oração
Este sino Este céu sobrevivente
Mas soa a meia-noite E logo o nada
deixa de estar em tudo como estava
David Mourão-Ferreira