24.4.08

Deitei ao sono a terra


Deitei ao sono a terra
lhe beijei os olhos fatigados
e me ficou nos lábios
um sabor de gota

Era a lágrima do sangue
a seiva ferida do chão
clamando em sua carne
a derradeira carícia

Adormecida,
a terra me ofertou seu ventre
para que nele guardasse
toda a minha morte

E eu deixei
ensonar a mão
sobre o último abismo.


Mia Couto
Moçambique