6.1.08


A liberdade é saber que ninguém ouve ou vê
o que em imaginada visão vou escrevendo
e que não é mais que a contingência de um instante
em que a palavra se aventura a não ser nada

Para quê a palavra se não vem de uma nascente
e se não abre um horizonte? Mas a palavra irrompe
do oriente que contém em si e é o vazio magnético
que transmuda o nada em mutação azul

Que posso ser eu mais que o vibrante vagar
em que do mundo só sinto a sua lonjura de veludo
e na página cintilam as brancas constelações?

Tal é o vago movimento da ingénua liberdade
que toca o seu extremo e cria o seu espaço
em que atravessa a sua ausência branca


António Ramos Rosa