30.1.08


Charneca em flor


Enche o meu peito, num encanto mago,

O frémito das coisas dolorosas…

Sob as urzes queimadas nascem rosas…

Nos meus olhos as lágrimas apago…

Anseio! Asas abertas! O que trago
Em mim? Eu oiço bocas silenciosas

Murmurar-me as palavras misteriosas

Que perturbam meu ser como um afago!


E, nesta febre ansiosa que me invade,

Dispo a minha mortalha, o meu burel,

E, já não sou, Amor, Soror Saudade…


Olhos a arder em êxtases de amor,

Boca a saber a sol, a fruto, a mel:
Sou a charneca rude a abrir em flor!

Florbela Espanca