11.10.11

Já não sabes como os filmes de papel



As letras azuis cor de mármore
são as veias cinzentas
que me atraem...
são cabelos ocos entrelaçados
por areia
e um cheiro a maresia
com rodapés de escarlate
e salmão
Sopro por entre cadeiras
assentes no chão
Razei a soma cabal
do esguio
e lânguido rosto
de cristal...
que se esgueirava
por entre dedos
e tijoleiras
As carnes com que prendia
os teus seios eram aquelas
que sabiam a sal
e onde navegam por
entre pedras soltas
e saltitantes esqueletos
ainda rebolas

e contornas
com grande perícia
os sinais de interrogação,
esses são órbitas,
teus livros
rasgados
com páginas amareladas
Vives em casas entreabertas
de medos, em que pintas
as tuas neuroses
com detalhes perfeccionistas,
em que tentas esculpir
as luzes psicóticas
dos barcos à deriva
cambaleias nessa névoa de cinzel
com barras tricolores
onde espelhos teus
encerram os meus temores...
Já não sabes trilhar
com remos partidos
Já não sabes
como os filmes de papel
És igual às outras
do princípio até mim...


Fernando Ramires