I
Despertei
com o pássaro longínquo
um rumor de fome
no seu olho fito
Atirou-se a pique
sobre a crosta da terra
a picar no mais tenro
o que eu nuca vi nem
me apalpei
Carne nao era
talvez fosse
a pedra de toque
do meu sono
Soltando as asas
desde a
serra
veio voando
direito
à varanda onde
pela manhã passeiam
pombos
Atirou-se a pique
com o seu olho louco
a descobrir
o que eu esquecia
Carne seria
lôbrega ou viva
hélice de sol puro
II
Canta-me ave
arcanjo
com o bico puxa
a farpa que desponta
do meu cérebro
Por montes e vales
transmigre o canto
e quem o escute
se sinta
recompensado
revolsionado
como se ouvisse enfim
a língua mais oculta
Luiza Neto Jorge