A fome que te tenho, descontrolada,
de te ter, o de te possuir,
o meu corpo, fogo... ardendo, queimando,
torna-se num imenso doloroso, num profundo,
os meus olhos vagueiam, olho-te,
o meu pensamento voa,
os lábios incham, a face dói,
a língua esculpida na tua, toca-te, engole-te,
o meu corpo procura-te para o arrepiar,
do sangue fervendo,
esta fome insaciável,
o leve,
o leve deste papel onde agora te sinto
sem o peso que é isso.
Sangue meu, meu sangue, ferve, ebule,
o meu corpo arrepiado, o meu ventre contorna-se,
o suor corre suavemente,
a minha boca seca,
as palavras, essas, perdem-se pelo espaço,
esse torna-se tão pequeno,
não consigo respirar,
o corpo esta pregado,
não sei saber qual o passo a seguir,
não posso mais,
o pensamento pasmo e susto,
o desejo grande, profundo,
a vontade de chorar, a vontade de fugir,
de não repartir o mesmo espaço,
essa química de todos os sentidos,
fundidas em desespero completo,
perdi-me...
Sónia Sultuane
Moçambique
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