11.3.08

A sombra da viagem


Como distinguir se o que ressuscitas
em mim, é a carne ou o sonho, língua ou luz,
se tudo em ti é determinação, e sangue,
se em mim o que perdura ainda é o teu grito?

No perdido paraíso de breves desmaios, sombras
em que o essencial e o supérfluo se diluem,
desgarrado serei o desvendar das imagens, fogo
como tu por mim serás, do mar, as vibrações

Alma com a força das vagas, delírio dos impulsos,
sóis de cólera e da contenção dos absurdos,
que se abrigam na paixão, como a luz nas grutas,

gritos que só o silêncio capta, como o sonho
sabe refazer a paisagem que o teu olhar exige
ou o contrário talvez mais trágica que o real


Virgílio de Lemos
Moçambique