19.6.09

Quadras Soltas




P'ra mentira ser segura
E atingir profundidade,
Tem que trazer à mistura
Qualquer coisa de verdade.



O rato mete o focinho
Sem pensar que faz asneira
Depois, ou larga o toucinho,
Ou fica na ratoeira.



Há pessoas muito altas
De nome ilustrado e sério
Porque o oiro tapa as faltas
Da moral e do critério.



Enquanto o homem pensar
Que vale mais que outro homem,
São como os cães a ladrar,
Não deixam comer, nem comem.



Quantas sedas aí vão,
Quantos brancos colarinhos,
São pedacinhos de pão,
Roubados aos pobrezinhos!



Sem que o discurso eu pedisse,
Ele falou; e eu escutei.
Gostei do que ele não disse;
Do que disse não gostei.


Bernardo de Passos