I
De Manhã
Diante deste lago
tão vasto que parece um mar
oiço o leve ruído das suas pequeninas ondas
estirando-se na areia.
Um lago é uma água prisioneira:
só o mar atira para fora
para longe
Mas também o mar está preso à terra.
II
Estou à beira do lago:
é o fim do Verão.
Sentada debaixo de uma grande árvore
algumas folhas já amarelas
caem de vez em quando sobre mim.
São poucas
discretas
mas nelas sinto já
o princípio do regresso à terra funda.
III
Neste ponto do lago
há um canal:
a corrente estreita-se
forma um pequeno rio
que mais adiante ganha velocidade
e depois desaparece
numa súbita curva do percurso.
Olhando eu penso:
este lago é um corpo
tem uma corrente sanguínea
esta é uma das suas verdes veias.
Ana Hatherly