ao Baltazar Lopes, poeta de Cabo Verde
Não sei porque trazes
essa interrogação inquieta
no teu olhar...
Porque persiste secreta
mãe, a interrogação inquieta
que leio no teu olhar?
Quando ia ou vinha da escola
mãe, ainda conservo na lembrança
havia essa interrogação inquieta
no teu olhar...
Quando nossa irmã ainda criança
regressava exausta do trabalho,
ou quando já de madrugada
nosso pai voltava do jornal
cansado pela composição manual
mãe, porque essa interrogação
inquieta, no teu olhar...
porque essa tortura dominante
em silêncio doloroso?
Ah, mãe, um poeta amigo
escreveu-me de Paris para dizer:
... eu nada receio
que o receio é de quem desconfia.
Aqui a palavra mágica é Bom Dia
e a Paz, irmão de Moçambique,
a bandeira porque lutamos...
Ah, mãe, se nós vivemos em paz
(será que vivemos felizes?)
e nos queremos bem,
se teus filhos crescem
e se fazem gente,
se este bem-estar que nos cerca
não é aparente,
porque descubro ainda hoje
essa interrogação inquieta
mãe, no teu olhar?
Porquê essa amargura
constrangida que me aterra?
Porquê, mãe, desde que te vi,
quer o mundo esteja em guerra,
quer o mundo viva em paz,
(será que vivemos em paz?)
sempre presente e secreta
essa interrogação inquieta,
mãe, no teu olhar...
Virgílio de Lemos
Moçambique