Maravilhosa plástica das coisas! 
Tudo no seu lugar, as cores e os olhos 
Lá no lugar de cada coisa, a vê-la 
Com seu aspecto natural e próprio. 
(Tudo para cada um, na variedade 
Dos olhos de quem se admite na paisagem, 
Ou como espectador, 
Ou como actor, 
Ambas as coisas uma, no concerto 
Magnífico do mundo.) 
  
...Sem memória, ou com memória a sê-la 
Nos olhos a olhar completamente 
Sem nenhum pensamento reservado: 
 - Olhos dados a cada coisa, ou tida 
-  Cada coisa p’los olhos que se deram!... 
  
Vaivém de tudo e nada, desse nada 
Profético de tudo - e o tudo enorme 
De cada nada afeiçoado e olhado 
À feição de quem olha possuindo 
E possuído, na maravilhosa 
Cópula grande dos Artistas todos... 
  
Maravilha de ter-se e ter-se dado, 
Em cada olhar olhado, 
E em cada cor e em cada flor mantido, 
Bolindo e vendo 
O sonho de se ir tendo 
Realizado. 
António Pedro (poeta caboverdiano)
