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Feliz era nudez.                Vinha diurna
           de dentro de si mesma. Porque o dia
           ressumbrava recente desde a sua
           novidade de pasmo. E de pupila
           apta à evidência. E, por isso, arguta,
           sem deduzir-se duma argúcia activa.
           Onde fossem seus passos a espessura
           entregava o seu fervor de enigma
           para, depois, se recolher. Ter junta
           e pronta a ordem de nova epifania.
           Era a nudez da inteligência. Abrupta
           e, ao mesmo tempo, de precisão tão íntima
           que até os recantos justos da penumbra
           recrutavam a luz da perspectiva.
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E, além                de feliz, era a nudez
            encontro de surpresa e de substracto
            – dentro palpites de sinais, e até
            intento a consumar o corpo, em estado
            de o espírito iluminar a tez
            que também se enriquece à luz do tacto.
            Ou a surpresa é dar-se o estar a ser
            com o dentro a difundir o seu espaço
            num paraíso de animais que vêm
            ao encontro de serem nomeados.
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E tudo encontra                na evidência o nome.
            A recente nudez da novidade
            traz o enigma do que vem de longe
            sem reserva qualquer nele entregar-se.
            Ou cada coisa do seu dentro rompe
            perpetuamente àquele feliz instante
            em que estarem a vê-lo lhe recolhe
            estar a ser. Com todo o ser em fase.
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E, enfim, era                a nudez corpo visível
            onde, invisível, se ajustava o acto
            de olhar. Não para enclausurar limites,
            ou reduzir o que se estava dando.
            A nudez recrudescia. A abrir-se
            com a frequência a exceder o impacto
            da visibilidade. E assim o timbre
            da sua luz estimulava o ângulo
            que a sagrava num espaço inextinguível.
            E tinha o pulso de lugar sagrado.
Fernando Echavarria (poeta timorense)
