Quando o luar caiu
tingiu de escuro os verdes da ilha  
cheguei, mas tu já não eras. 
Cheguei quando as sombras revelavam  
os murmúrios do teu corpo  
e não eras. 
Cheguei para despojar de limites o teu nome. 
Não eras. 
As nuvens estão densas de ti  
sustentam a tua ausência  
recusam o ocaso do teu corpo  
mas não és. 
Pedra a pedra encho a noite  
do teu rosto sem medida  
para te construir convoco os dias  
pedra a pedra  
no teu tempo consumido. 
As pedras crescem como ondas  
no silêncio do teu corpo.                                              
Jorram e rolam  
como flores violentas. 
E sangram como pássaros exaustos  
no silêncio do teu corpo  
onde a noite e o vento se entrelaçam  
no vazio que te espera. 
Súbito e transparente chegaste  
quando falsos deuses subornavam o tempo,  
chegaste sem aviso  
para despedir o defeso e o frio,  
chegaste quando a estrada se abria  
como um rio, 
chegaste para resgatar sem demora o principio. 
Grave o silêncio agarra-se ao teu corpo,  
hostil o silêncio agarra-se ao teu corpo  
mas já tomaste horas e caminhos  
já venceste matos e abismos 
já a espessura do obô resplandece em tua testa. 
E não me bastam pombas dementes no teu rosto  
não bastam consciências soluçante em teu rasto  
não basta o delírio das lágrimas libertas. 
Cantarei em pranto teu regresso sem idade  
teu retorno do exílio na saudade  
cantarei sobre esta terra teu destino de rebelde. 
Para te saudar no mar e no 
na manhã dos cantos sem represas  
saudarei a praia lisa e o pomar. 
Direi teu nome e tu serás. 
Conceição Lima (poetisa sãotomense)
