Eu diria que não vejo nada e que não sei. 
Algo está suspenso. A hora repousa. 
Eu quero estar vivo como uma ferida, como um signo, 
não mais do que um rumor de coisa nua. 
Neste momento nada é confuso nem opaco. 
Os labirintos são trémulos, transparentes. 
Dir-se-ia que atravesso um jardim e toda a vida 
repousa entre as forças de cinza 
e o fulgor da chama. E adormeço 
sentindo a beleza e o tempo, o mesmo arco 
iluminado. 
António Ramos Rosa
