Tenho sonhos cruéis: n'alma doente
           sinto um vago receio prematuro.
           Vou a medo na aresta do futuro,
           embebido em saudades do presente...           
Saudades desta dor que em vão procuro
           do peito afugentar bem rudemente,
           devendo, ao desmaiar sobre o poente,
           cobrir-me o coração de um véu escuro!...           
Porque a dor, esta falta d'harmonia,
           toda a luz desgrenhada que alumia
           as almas doidamente, o céu d'agora,           
sem ela o coração é quase nada:
           um sol onde expirasse a madrugada,
           porque é só madrugada quando chora.
Camilo Pessanha
