Onde estão os homens caçados neste vento de loucura

O sangue caindo em gotas na terra 
homens morrendo no mato 
e o sangue caindo, caindo... 
Fernão Dias para sempre na história 
da Ilha Verde, rubra de sangue, 
dos homens tombados 
na arena imensa do cais. 
Aí o cais, o sangue, os homens, 
os grilhões, os golpes das pancadas 
a soarem, a soarem, a soarem 
caindo no silêncio das vidas tombadas 
dos gritos, dos uivos de dor 
dos homens que não são homens, 
na mão dos verdugos sem nome. 
Zé Mulato, na história do cais 
baleando homens no silêncio 
do tombar dos corpos. 
Aí, Zé Mulato, Zé Mulato. 
As vítimas clamam vingança 
O mar, o mar de Fernão Dias 
engolindo vidas humanas 
está rubro de sangue. 
- Nós estamos de pé - 
Nossos olhos se viram para ti. 
Nossas vidas enterradas 
nos campos da morte, 
os homens do cinco de Fevereiro 
os homens caídos na estufa da morte 
clamando piedade 
gritando p'la vida, 
mortos sem ar e sem água 
levantam-se todos 
da vala comum 
e de pé no coro de justiça 
clamam vingança... 
... Os corpos tombados no mato, 
as casas, as casas dos homens 
destruídas na voragem 
do fogo incendiário, 
as vias queimadas, 
erguem o coro insólito de justiça 
clamando vingança. 
E vós todos carrascos 
e vós todos algozes 
sentados nos bancos dos réus: 
- Que fizeste do meu povo?... 
- Que respondeis? 
- Onde está o meu povo?... 
E eu respondo no silêncio 
das vozes erguidas 
clamando justiça... 
Um a um, todos em fila... 
Para vós, carrascos, 
o perdão não tem nome. 
A justiça vai soar, 
E o sangue das vidas caídas 
nos matos da morte 
ensopando a terra 
num silêncio de arrepios 
vai fecundar a terra, 
clamando justiça. 
É a chamada da humanidade 
cantando a esperança 
num mundo sem peias 
onde a liberdade 
é a pátria dos homens...
Alda Espírito Santo (poetisa sãotomense)