O mar é triste como um cemitério, 
Cada rocha é uma eterna sepultura 
Banhada pela imácula brancura 
De ondas chorando num albor etéreo. 
Ah! dessas no bramir funéreo 
Jamais vibrou a sinfonia pura 
Do amor; só descanta, dentre a escura 
Treva do oceano, a voz do meu saltério! 
Quando a cândida espuma dessas vagas, 
Banhando a fria solidão das fragas, 
Onde a quebrar-se tão fugaz se esfuma. 
Reflecte a luz do sol que já não arde, 
Treme na treva a púrpura da tarde, 
Chora a saudade envolta nesta espuma! 
Augusto dos Anjos (poeta brasileiro)
