Será este o ponto de partida, obscuridade incerta 
e sobre o fundo sombrio da morte? A esperança 
nascerá deste branco vazio e desta mão de cinza? 
O viajante entrou num barco ou numa árvore 
que o soergue, ainda hesitante, na imensidade 
de uma sombra de astro. Ele aproxima-se 
de formas vagas, de espelhos entre pedras, 
e junto a um muro sob as estrelas 
uma figura de orvalho descalça sobre as ervas. 
Tudo flutua ainda, dentro da poeira azul 
e púrpura e tudo está esparso e reunido 
como na primeira consciência deste mundo 
tão longínquo e tão presente como se o sol fosse um perfume 
que da montanha descesse sobre as palavras ditas. 
 António Ramos Rosa
