As nuvens, não construídas, engendradas 
no repouso, não ideias mas formas 
que respiram e caminham e quase falam, 
são a fluência de um princípio que não cessa 
e tudo o que vai ser, na mais viva iminência. 
Assim um deus criaria o espaço puro 
no sopro do desejo, 
avançando no silêncio como um barco. 
Assim, não para construir, mas para abrir 
através da sombra, através da cinza, 
e para além, das palavras, as portas indecisas 
e que brilhem os signos e as figuras 
indecifráveis.  
António Ramos Rosa
