No espaço claro e longo
            O silêncio é como uma penetração de olhares              calmos...
            Eu sinto tudo pousado dentro da noite
            E chega até mim um lamento contínuo de árvores              curvas.
            Como desesperados de melancolia
            Uivam na estrada cães cheios de lua.
            O silêncio pesado que desce
            Curva todas as coisas religiosamente
            E o murmúrio que sobe é como uma oração              da noite...           
Eu penso em ti.
            Minha boca cicia longamente o teu nome
            E eu busco sentir no ar o aroma morno da tua carne.
            Vejo-te ainda na visão que te precisou no espaço
            Ouvindo de olhos dolentes as palavras de amor que eu te dizia
            Fora do tempo, fora da vida, na cessação suprema do              instante
            Ouvindo, junta de mim, a angústia apaixonada da minha voz
            Num desfalecimento.
            Pelo espaço claro e longo
            Vibra a luz branca das estrelas.
            Nem uma aragem, tudo parado, tudo silêncio
            Tudo imensamente repousado.
            E eu cheio de tristeza, sozinho, parado
            Pensando em ti.           
           
Vinícius de Moraes (poeta brasileiro)