XVII
                       Meu frágil coração, para que adoras,
           Para que adoras, se não tens ventura?
           Se uns olhos, de quem ardes na luz pura,
           Folgando estão das lágrimas que choras?           
Os dias vês fugir, voar as horas
           Sem achar neles visos de ternura;
           E inda a louca esperança te figura
           O prémio dos martírios, que devoras!           
Desfaze as trevas de um funesto engano,
           Que não hás de vencer a inimizade
           De um génio contra ti sempre tirano.           
A justa, a sacrossanta divindade
           Não força, não violenta o peito humano,
           E queres constranger-lhe a liberdade?
Bocage
