Nem visão, nem real: amor! amor somente!...
           Pois quem sabe o que diz esta palavra - amor -?
           Quando deixa cair no peito esta semente,
           Diz o que há-de brotar, acaso, o Deus-Senhor           
Somente amor... Somente?! e pouco esta palavra? Duas silabas
             só- em pouco um mundo esta -
           Loucos! mas, quando o amor se expande, e cresce, e lavra,
           Bem como incêndio a arder, tão pouco inda será?           
Gota, que alaga o mundo! átomo, e após, colosso!
           Mas este nada ou mundo, a mim quem mo aqui pôs!
           Foi Deus! de Deus me vem... e a Deus medir não posso:
           E imenso o que vem dele... os nadas somos nos.           
E o nada, que me abriu no peito e, feito imenso,
           O encheu, bem como um vaso, abrindo, encheu a flor,
           Ha-de alagar teu peito e ser do templo incenso...
           Mulher! hás-de escutar, que eu vou falar d'amor!           
Falar d'amor?!... se ele e como uma essência,
           Que nos perfuma, sem se ver de donde...
           Se ele e como o sorriso da inocência,
           Que inda se ignora e, p'ra sorrir, se esconde...            
Se e o sonho das noites vaporoso,
           Que anda no ar, sem que possamos ve-lo...
           Se e a concha no oceano caprichoso,
           Se e das ondas do mar ligeiro velo...            
Se e suspiro, que oculto se descerra,
           Se escuta, mas se ignora de que banda...
           Se e estrela, que manda a luz a terra,
           Sem se ver de que paramos a manda...            
Se e sonho, que sonhamos acordado...
           Suspiro, que soltamos sem senti-lo...
           Sopro que vai dum lado a outro lado...
           Sopro ou sonho, quem pode repeti-lo?            
Se e segredo entre dois, como dizê-lo,
Sem divulga-lo, sem que o ouça tudo?
Se e mistério encoberto, como vê-lo?..