Se é lei, que rege o escuro pensamento,
            Ser vã toda a pesquisa da verdade,
            Em vez da luz achar a escuridade,
            Ser uma queda nova cada invento;            
É lei também, embora cru tormento,
            Buscar, sempre buscar a claridade,
            E só ter como certa realidade
            O que nos mostra claro o entendimento.            
O que há de a alma escolher, em tanto engano?
            Se uma hora crê de fé, logo duvida;
            Se procura, só acha... o desatino!            
Só Deus pode acudir em tanto dano:
            Esperemos a luz duma outra vida,
            Seja a terra degrêdo, o céu destino.
Antero de Quental